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Vivências e relatos na Colônia Penal Feminina de Buíque durante ação "Meninas e Mulheres no Sertão de Pernambuco - Presença que transforma"
A equipe que participou da visita à Colônia Penal Feminina de Buíque com as reeducandas
A ação "Meninas e Mulheres no Sertão de Pernambuco - Presença que transforma!", idealizada pelo Conselho Nacional de Justiça, com o apoio da Coordenadoria da Mulher do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), foi promovida na cidade de Buíque, durante a Pré-XIX Jornada Lei Maria da Penha, nos dias 4 e 5 de agosto. Entre as atividades houve a visita à Colônia Penal Feminina da cidade, no dia 5 de agosto.
A coordenadora da Mulher do TJPE, desembargadora Daisy Andrade, explica a iniciativa no Sertão pernambucano. "Por meio da visita à Colônia, a Coordenadoria da Mulher para além de olhar para as mulheres que sofrem violência doméstica, também atende à Resolução 252, de 2018, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), lançando um olhar diferenciado para as mulheres privadas de liberdade, principalmente às mulheres lactantes e grávidas. Foi um encontro muito rico no qual pudemos tratar temas que interessam à realidade de cada uma delas e traçar diretrizes voltadas a uma política pública mais eficaz e humanizada para essas mulheres", informa
Na Colônia Penal Feminina de Buíque, as mulheres, mães e gestantes que cumprem pena no local, foram presenteadas com o ensaio fotográfico intitulado "Enquanto há tempo", da fotógrafa Andréa Leal. As fotos foram realizadas no dia 23 de julho deste ano. "Foi um ensaio produzido para que essa mulher se sinta cuidada e amparada, e representa uma maneira de ressignificar a maternidade que ela está vivendo. É ainda uma tentativa de diálogo através da arte, para que ela olhe para si, para sua história e perceba os momentos mágicos que a maternidade proporciona. Instantes registrados e guardados sempre na memória. Acredito que uma ação como essa faz toda a diferença na autoestima dessas mulheres", pontua Daisy Andrade.
A exposição do ensaio fotográfico, "Retratos de Mãe", da fotógrafa Andréa Leal, realizado no Recife, que foi exibida na Esmape
A magistrada destaca que a atenção à mulher vítima de violência doméstica e privada de liberdade começou a ser implementada em 2016, com visitas a presídios femininos, buscando a capacitação dessas mulheres sob a perspectiva de um olhar humanizado para a realidade percebida no local. Em 2019, a Coordenadoria da Mulher do TJPE promoveu, pela primeira vez, o ensaio fotográfico "Retratos de Mãe", também da fotógrafa Andréa Leal, com gestantes da Colônia Penal Feminina Bom Pastor, no Recife. O ensaio já foi exposto em diversos espaços públicos. Um dos mais recentes foi no hall da Escola Judicial do TJPE, durante a XIX Jornada Lei Maria da Penha promovida pelo CNJ com o apoio do TJPE, nos dias 7 e 8 de agosto.
A fotógrafa Andréa Leal falou da experiência classificando-a como uma das mais transformadoras que viveu na profissão. "Estar dentro do presídio e poder olhar nos olhos daquelas mulheres me mostrou, de forma ainda mais profunda, o quanto cada vida carrega histórias, dores e também possibilidades de recomeço. Minha intenção, ao fotografar aquelas mães e gestantes, foi além de registrar uma fase, dar a elas, ainda que por instantes, a oportunidade de se verem como mulheres que geram vida, com dignidade e sensibilidade. Cada fotografia foi um resgate de humanidade, num contexto em que muitas vezes a sociedade prefere invisibilizar essas pessoas", revela.
Andréa descreveu ainda os momentos vivenciados durante a visita. "Houve silêncio, lágrimas, sorrisos tímidos e, acima de tudo, a certeza do poder que a fotografia tem e o quanto pode ser uma ferramenta de transformação, de visibilidade e de esperança. A relevância dessa ação está em devolver a essas mulheres o direito à memória, à autoestima e ao reconhecimento da sua maternidade. Porque, mesmo em um ambiente de privação, elas continuam sendo mães, continuam sendo mulheres que merecem ser vistas e lembradas com respeito", conclui.
Uma das reeducandas que participou da iniciativa, P.R.L., classificou a data como um momento significativo também porque teve sua imagem capturada no dia do aniversário do seu primeiro filho. "O dia 23 de julho, data em que foi realizado o ensaio, é muito importante para mim, porque meu primeiro filho completou um mês hoje. Meu sonho sempre foi ser mãe. Independente do lugar e da situação que estamos só tenho a agradecer e ficamos bem felizes porque estávamos eternizando momentos mães e filhos. Espero que outras mulheres privadas de liberdade tenham a mesma experiência que tivemos", diz.
Para a gestora da Colônia Penal Feminina de Buíque, Anna Karina Patriota, a ação representou um marco na história da unidade. "Foi um dos momentos mais enriquecedores e emocionantes que já tivemos. Todas as participantes, palestrantes e convidados puderam atestar o quanto a realidade das nossas reeducandas condiz com a pauta em questão e quão elas foram gratas por tantas informações e troca de experiências", avalia.
Anna Karina Patriota também comentou os debates e o caráter pedagógico da ação. "As representantes do Judiciário foram pontuais nas suas palestras, sem deixar de focar na humanização, nas questões pertinentes ao tema. Já a palestra da ativista Luiza Brunet foi emocionante porque, narrando sua história pessoal, ela fez ver que qualquer mulher nasce sob o risco de sofrer violência, seja física, psicológica ou de gênero, e que é preciso confiar na justiça e na rede de apoio institucional, para superação e recomeços", analisa.
Evento - Coordenada pela desembargadora Daisy Andrade, a iniciativa, na cidade, contou com a participação das juízas do TJPE Mariana Vargas, Tatiane Lapa e Roberta Viana, além da juíza Lícia Kirchkein, da Vara de violência doméstica de Cascavel, no Paraná. Participaram ainda da ação a empresária, ativista e modelo brasileira Luiza Brunet; o prefeito do Município de Buíque, Túlio Monteiro; o defensor público Gustavo Cardoso; o promotor Alexandre Pino; do juiz de direito Felipe Marinho; e representantes da Secretaria da Mulher.
Em Buíque, no dia 5 de agosto, também foram realizadas as Rodas de diálogo nas comunidades quilombola e indígena kapinawá do município. A XIX Jornada Lei Maria da Penha ocorreu nos dias 7 e 8/08 de agosto, na Escola Judicial (Esmape) do TJPE. Com homenagens, debates sobre a violência doméstica, lançamento da Medida Protetiva Eletrônica em todo o Estado, a mobilização foi promovida pelo Conselho Nacional de Justiça com o apoio do TJPE.
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Texto: Ivone Veloso | Ascom TJPE
Foto1: Cortesia
Foto2: Leandro Lima | Ascom TJPE