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A leitura que se vira ponte para os direitos das crianças e adolescentes


 

Tem coisas que a gente só entende quando vê. E o que se viu no Teatro Marcos Camarotti, em Paudalho, foi uma dessas cenas que fazem a gente acreditar que ainda há esperança neste mundo meio torto em que vivemos. Ali, naquele espaço que já viu tantas histórias serem contadas, o Coletivo Epicentro Terra Viva plantou mais uma semente: a conferência de abertura do projeto "Círculos de Leitura sobre Direitos Humanos da Criança e do Adolescente". E quando o assunto são os círculos de leitura, a Coordenadoria da Infância e Juventude (CIJ) do TJPE não poderia ficar de fora.

Não foi só mais um evento. Foi um encontro de pessoas que se reconhecem na mesma missão: proteger quem mais precisa de proteção. Educadores, ativistas, agentes culturais e representantes de instituições parceiras se juntaram para tecer uma rede — dessas que sustentam, que amparam, que não deixam ninguém cair. Uma rede que se espalha pela Zona da Mata Norte de Pernambuco, fortalecendo a proteção e promoção dos direitos de crianças e adolescentes.

A CIJ chegou ali não como convidada, mas como parceira de verdade. E quando a psicóloga Kátia Assad, do Núcleo de Justiça Restaurativa, subiu ao palco para compor a mesa de abertura, levou consigo mais que conhecimento técnico — levou a certeza de que a leitura pode ser revolução silenciosa, transformação que acontece palavra por palavra.

"Foi uma alegria representar a Coordenadoria da Infância e Juventude na abertura deste Seminário Círculos de Leitura, organizado tão amorosa e coletivamente por todos aqueles que trabalham na promoção e defesa dos direitos das crianças e adolescentes do Paudalho", disse Kátia, e na sua fala havia algo maior que protocolo institucional — havia afeto genuíno. "O trabalho em rede é e sempre será mais profícuo! Por meio da cultura, Paudalho nos convida a pensar na pluralidade das infâncias do nosso estado e nos lembra que o caminho da arte nunca nos decepciona", completa.

A arte não decepciona mesmo. Principalmente quando encontra quem sabe usá-la para curar feridas que às vezes nem se veem. Foi isso que a professora Elizama Messias e o pedagogo Reinaldo Nascimento trouxeram para a mesa: a literatura como medicina, a contação de histórias como terapia, a Pedagogia de Emergência como resposta para quem mais precisa de respostas.

Para Maria Teresa Sampaio, também psicóloga do Núcleo de Justiça Restaurativa, estar ali foi descobrir que não estavam sozinhos nessa caminhada. "O que mais chamou a atenção foi perceber o envolvimento de tantos atores da sociedade civil, das escolas, da cultura, das instituições públicas trabalhando juntos em prol dos direitos das crianças e adolescentes", reflete. E completou, com a sabedoria de quem conhece o território: "Estar lá como membro do Núcleo de Justiça Restaurativa do TJPE e como facilitadora de Círculos de Construção de Paz e Leitura foi importante para perceber a existência de pontos comuns entre a JR e a Pedagogia da Emergência e do Trauma."

Porque é disso que se trata, no final das contas. De encontrar pontos comuns. De descobrir que a justiça restaurativa e a pedagogia do afeto falam a mesma língua — a língua do cuidado, da escuta, da segunda chance que toda criança merece ter.

O projeto que nasceu ali não é pequeno nas suas ambições: quer formar facilitadores (34 horas de curso!), quer criar uma rede sólida na Zona da Mata Norte, quer usar a literatura e a arte como instrumentos de transformação social. É coisa séria, feita por gente séria que entendeu que revolucionar o mundo pode começar numa sala de aula, num círculo de leitura, numa história bem contada. Este evento fez parte do primeiro módulo do Projeto de Círculos de Leitura em Direitos Humanos, mas outros quatros ainda irão acontecer. E no quinto e último, teremos a participação da experiente psicóloga Luciana Carvalho, do CRIAR.

Durante quatro horas, aquele teatro foi laboratório de sonhos possíveis. E quando todo mundo saiu de lá, levou junto a certeza de que vale a pena acreditar — nas crianças, nos adolescentes, na força da palavra escrita e falada, na magia que acontece quando pessoas se juntam para fazer a diferença.

“A participação da CIJ nesse projeto é muito significativa, pois nos aproxima de iniciativas que fortalecem os direitos de crianças e adolescentes na região. Estar presente em espaços de diálogo com educadores, agentes culturais e ativistas permite que a justiça se coloque não apenas como garantidora de direitos, mas como parceira na construção coletiva de uma cultura de cuidado e proteção”, ressaltou o psicólogo Jaime Lima, do Núcleo de Gestão de Planejamento da Coordenadoria da Infância e Juventude.
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Texto: Ana Paula Santos  | Ascom CIJ
Fotos: Cortesia