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A costura fina da infância: Quando a justiça veste o diálogo

Profissionais participaram de forma presencial e online

Em um tempo onde a celeridade muitas vezes atropela a profundidade, e o rito processual corre o risco de desumanizar, a Coordenadoria da Infância e Juventude (CIJ) do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) aposta na pausa formativa, no encontro e na troca. No último dia 19 de maio, o primeiro "Encontro Formativo da Infância e Juventude de 2025" desenhou um caminho diferente, menos burocrático e mais humano, para a complexa rede de proteção de crianças e adolescentes.

O tema "Orientações sobre o uso do SNA e experiências de audiências concentradas" pode soar técnico para quem não está imerso nos labirintos da Justiça. Mas, por trás da nomenclatura, reside o esforço de aprimorar ferramentas e práticas que impactam diretamente a vida de meninos e meninas em situação de vulnerabilidade. A Escola Judicial de Pernambuco (Esmape) abriu suas portas para a atividade, que se desdobrou em um formato híbrido, conectando equipes do interior do estado via plataforma TEAMS. A imagem de um sistema que, apesar de suas engrenagens, busca se capilarizar, chegar onde o "papel" por si só não alcança.

O que se viu ali, e é preciso sublinhar, não foi apenas uma palestra ou um mero repasse de informações. O propósito, ambicioso e necessário, é fortalecer o intercâmbio de experiências entre equipes especializadas. É a costura fina do sistema, onde o trabalho articulado entre o Sistema de Justiça e as diversas instituições do Sistema de Garantia de Direitos (SGD) ganha corpo, forma e alma. Não é uma utopia, mas uma urgência.

A narrativa dos participantes é unânime: o encontro foi profícuo. A partilha de experiências das Varas da Comarca de Recife, por meio de um diálogo que se propôs a ser leve e construtivo, foi o real motor do dia. Análises de situações concretas, trocas sobre o atendimento jurisdicional – tudo isso se desenrolou em um espaço que se afastou da formalidade para abraçar a colaboração. É a certeza de que, para cuidar da infância, é preciso, antes de tudo, ouvir e entender a vivência de quem está na linha de frente.

“As equipes interprofissionais especializadas em infância e juventude atuam cotidianamente no atendimento da população usuária do sistema de justiça e com demais atores parceiros na promoção, proteção e defesa de direitos das crianças e dos adolescentes. São processos de trabalho complexos que demandam uma atualização constante de referenciais teórico-metodológicos e técnico-operativos. Assim, entendemos ser fundamental o fortalecimento e a qualificação deste trabalho que é coletivo”, explicou a assistente social Élida Nascimento que, juntamente com Karlise Lucena e Paulo Teixeira, formam a equipe do NAGP da Coordenadoria da Infância e Juventude.

E o caminho segue. A CIJ já anunciou que 2025 terá mais dois Encontros Formativos. O primeiro já tem data para acontecer: dia 11 de junho – de forma remota -, trazendo a temática do Acolhimento Familiar. O público alvo segue sendo os representantes dos serviços de acolhimento em família acolhedora, equipes interprofissionais das varas, secretarias estaduais, juízes e promotores. 

Temas do cotidiano, metodologia dialógica, trabalho coletivo. Não são apenas eventos no calendário; são promessas de um sistema que se dobra para aprender, que reconhece a necessidade de se reinventar a cada dia. Porque a infância, afinal, é o futuro que se constrói hoje, com a leveza do diálogo e a força de um trabalho que se quer, acima de tudo, humano.

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Texto: Ana Paula Santos | CIJ
Foto: cortesia